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29 de outubro de 2011

Jogos usados: um Mercado crescente no Brasil

Pagar mais barato por um game de segunda mão é uma boa opção pro consumidor e abre caminho para compra de um produto novo



Em janeiro de 2010, a editora-assistente Paula Romano foi para Nova York para jogar em primeira mão o beta de "L.A. Noire". Aproveitando a viagem, pedi que ela comprasse uma cópia usada de "Gears of War 2" na famosa rede de lojas Game Stop. Além de completar minha coleção particular, queria analisar a diferença de preço, qualidade do produto de segunda mão e atendimento da loja. O resultado foi tão surpreendente quanto meio assustador: excelente atendimento, produto tinindo como se fosse novo e preço justo: apenas US$ 9. E é nesse quesito que a coisa complica.

O mesmo jogo pela qual paguei cerca de R$ 15 (cópia de segunda mão) nos Estados Unidos estava custando na época cerca de R$ 200 (cópia nova) no Brasil. Agora, com o lançamento de "Gears of War 3", obviamente esse valor está mais baixo, mas a diferença continua enorme.

O fato é que a qualidade do produto usado comprato na Game Stop era impecável: nenhum risco, encarte em perfeito estado, zerei o jogo sem qualquer problema. E é nesse ponto que entra em questão uma tendência que começa a chegar de forma significativa ao Brasil: o comércio de games usados. Veja bem que não estamos falando aqui da troca de jogos, que já é bem comum, mas do comércio legalizado de produtos de segunda mão em lojas específicas.



A experiência americana

A Game Stop investe nesse nicho nos EUA há anos e colhe os frutos do sucesso. Hoje em dia, a rede de lojas sequer discute se o mercado de usados atrapalha a compra de produtos novos. Na verdade, até discute sim, mas para dizer o que muita gente não quer ouvir: a comercialização de usados não atrapalha em nada o mercado de produtos novos.

"Adquirir um episódio mais antigo de um game é uma forma direta de incentivar o consumidor a se interessar por adquirir o novo título daquele jogo", disse Michael Mauler, vice-presidente da rede Game Stop, em recente entrevista ao site Games Industry. "O publisher acaba saindo ganhando nessa história, pois muita gente não está disposta a pagar US$ 60 por um grande lançamento, ainda que ele seja tentador. Mas aí ele vai na prateleira da loja, pega um "FIFA" ou um "Pro-Evolution" usado, leva pra casa, joga e acaba se motivando para gastar mais pela nova versão do game."

Bingo! Esse é o ponto principal que deve ser considerado: a venda do produto usado não anula a do novo. Muito pelo contrário: pode incentivar o comércio, não retraí-lo. O fato é que muitos gamers não têm dinheiro ou simplesmente não querem gastar determinada quantia em um mês específico, mas por um valor mais barato acabam fazendo uma compra que inicialmente sequer iria acontecer. Isso oxigena o mercado como um todo.

"Se você é um fã de FPS, já procura na internet quais os jogos do gênero que sairão no semestre. Mas precisa ser rico para comprar todos eles: compra um 'Battlefield 3 'e não poderá mais gastar US$ 60 com um game por pelo menos mais uns dois ou três meses", explica Mauler. "Os lançamentos estão muito próximos uns dos outros, não dá para querer que o consumidor compre tudo."

E é aí que entram os games usados com a função de contrabalancear essa conta. Nos EUA, é esse tipo de consumidor que mais investe em DLCs (pacotes de expansão), que permitem dividendos mais diretos para as publishers.

"Pela nossa experiência, posso dizer que o comprador de jogos usados não costuma jogar online. O número é baixo: apenas 15%, 20% no máximo. Ele prefere investir seu dinheiro comprando DLCs para deixar o jogo mais incrementado", esclarece o vice-presidente da Game Stop.



Usados crescem no Brasil

A realidade norte-americana é obviamente completamente diferente da brasileira. Mas a cultura de adquirir o produto usado já ganha corpo no país. Uma das maiores redes de lojas especializadas do país tem seu nome inspirado justamente na palavra "usado": UZ Games.

"A UZ Games nasceu há 27 anos já com esse conceito. Nós sempre aceitamos jogos usados como pagamento, é parte da nossa cultura. O nome UZ Games foi inspirado no bilhete de um cliente que escreveu 'usado' com Z. Achei engraçado e passei a utilizá-lo", conta Marcos Khalil, fundador da rede. "Claro que a UZ sozinha não consegue mover o mercado, mas isso já é feito há bastante tempo por nós. Se o movimento de jogos usados aumentarem ainda mais, vai ser ótimo. Jogos usados têm valor comercial e não podemos desperdiçar."

"É um movimento muito positivo, pois com preços mais baixos você consegue até combater a pirataria", lembra Leonardo Madruga, sócio-proprietário da Rock Laser.

"Quando um cliente traz um jogo usado para trocar, ele acaba substituindo por um novo, quase sempre um lançamento. Isso faz com que lançamentos seja vendidos mais facilmente", alerta Claudinei Freitas, diretor da House Games. "Quem não quer pagar tão caro em um lançamento, acaba comprando o usado por um preço bem menor. Isso ajuda até a diminuir a pirataria no país."

Se os três profissionais brasileiros concordam que o mercado de usados é benéfico, por outro divergem quanto a posição do vice-presidente da Game Stop de que eles ajudam na venda de novos produtos.

"A venda de jogos usados sempre foi um grande negócio para o lojista e para o consumidor final, mas acredito que os fabricantes não gostem dessa iniciativa. Afinal, eles deixam de vender o produto pelo preço de lançamento e ainda veem o mesmo game passar na mão de mais de um possível comprador", defende Khalil.

"Por outro lado, eu entendo o raciocínio do Michael Mauller, que até bate com o meu. Claro que é importante para uma franquia ter suas primeiras versões sendo vendidas a preços acessíveis, porque isso faz com que as pessoas gostem do jogo e comprem as sequências, mas acredito que o principal motivo para as pessoas comprarem jogos usados é porque não têm condições financeiras de pagar o valor de um jogo novo ou não têm coragem de dispor um valor tão alto por um game."

Madruga discorda: "Sinceramente, acho que não tem nada a ver. Esse tipo de coisa pode sim ajudar a diminuir a pirataria por causa dos preços mais baixos, mas algumas promoções ajudam muito mais, como fizemos com "Assassin's Creed" I, II e "Brotherhood". Um ajudou a vender o outro."



Varejistas apoiam o usado

O mercado de usados no país ainda é pequeno - aliás, até o de novos ainda é -, mas já dá sinais de que pode ajudar na oxigenação de determinados setores.

"Quero que a venda de usados cresça cada vez mais na UZ Games. A reutilização de produtos está na pauta agora, mas para a UZ ela sempre foi tratada com seriedade, como negócio", diz Khalil. "Acredito que em 2012 muitas empresas que nunca trabalharam nesse ramo vão querer fazer o mesmo em relação à venda de CDs, DVDs e Blue-Ray."

O fato é que a compra de games usados é uma questão cultural com um fortíssimo componente econômico. A experiência individual de cada loja ou distribuidora é que determina as políticas individuais sobre investimento no segmento. Mas que ele traz benefícios para o consumidor final, o fã de games, ah, isso é inegável. Experiência própria, né.

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